Abertura de capital, transformação digital e M&As se somam para gerar imensas transformações no mercado brasileiro

Um dos movimentos estratégicos mais importantes dos últimos dois anos, e especialmente desde o início da pandemia, é a busca das empresas por recursos no mercado de capitais. No passado restrito a casos isolados, ou trazidos por varejistas estrangeiras para o País, o financiamento de operações a partir da Bolsa se transformou em uma alternativa importante para alçar voos mais altos.

Em 2020, um ano marcado por uma pandemia que trouxe uma disrupção incrível em todos os mercados, a B3 viu 28 ofertas públicas iniciais (IPOs), que movimentaram R$ 43 bilhões. Até meados de agosto de 2021, outros 34 IPOs aconteceram no Brasil, com mais 19 previstos até o fim do ano. Muitas dessas operações são de varejo: Grupo Soma, Enjoei, Track & Field, Grupo Mateus, Quero-Quero, d1000, Petz, Pague Menos, Mobly, Westwing… Outras, como Lupo, Ammo Varejo e Madero, estão em análise, enquanto redes como a Havan já anunciaram a intenção de seguir este caminho.

Segundo a edição 2021 do Ranking 300 Maiores Empresas do Varejo Brasileiro, da SBVC, no ano passado o número de empresas de capital aberto entre as 300 maiores subiu de 32 para 42. E, embora sejam apenas 14% das empresas no Ranking, somam um faturamento bruto de R$ 374 bilhões, ou 47,03% do faturamento desse grupo de varejistas.

Os dados mostram que abrir o capital amplia as possibilidades de crescimento. Um bom exemplo é a Petz, que movimentou R$ 3 bilhões em seu IPO em setembro de 2020 e, no início de agosto deste ano, pagou R$ 715 milhões pela Zee.Dog. A varejista também vem usando os recursos da abertura de capital para expandir sua rede de lojas físicas, acelerar sua operação online, aumentar as opções omnichannel com a extensão do “clique e retire” e do ship from store a partir de mais lojas, e avançar na oferta de serviços veterinários.

A compra da Zee.Dog também exemplifica a tendência de usar os recursos do IPO para consolidar o mercado. É o que o Grupo Soma fez ao adquirir a Hering e se tornar o quinto maior grupo de vestuário do País. Com a compra, a empresa expandiu seu mercado potencial em 3,7 vezes, passando a atuar nos segmentos de vestuário casual e básico.


Os veteranos também avançam

E não é só os novatos na Bolsa que aceleram a consolidação do varejo. Para empresas veteranas, a valorização no mercado de capitais criou uma oportunidade de acelerar a estratégia digital. Um bom exemplo é a Renner, que, depois de captar mais de R$ 4 bilhões em uma oferta de ações no primeiro semestre, adquiriu o brechó online Repassa e passou a atuar em um novo segmento de mercado.

Mas o maior case de apetite para investimentos é o Magazine Luiza, que adquiriu 21 empresas desde o início de 2020, dentro de uma estratégia de se transformar no “sistema operacional” do varejo, com empresas de logística, serviços financeiros, tecnologia e conteúdo. A maior aquisição, do site Kabum!, por R$ 3,5 bilhões, envolveu R$ 1 bilhão pagos à vista e um follow-on para emitir 150 milhões de novas cotas e continuar a financiar a expansão da empresa em novos mercados.

Cria-se um ciclo virtuoso que se retroalimenta: empresas com uma visão mais digital de seus negócios são mais bem avaliadas pelo mercado, conseguem mais recursos e, assim, adquirem outras companhias, consolidando o mercado. Como as novas empresas ampliam a digitalização de seus negócios, elas continuam a crescer e se valorizar. 

É o que permitiu, recentemente, que a Americanas adquirisse o grupo Hortifruti/Natural da Terra, expandindo sua operação no setor de alimentos e aproveitando sinergias claras com a operação de alimentos Supermercado Now, com as iniciativas de pagamentos da Ame e com a estrutura logística tanto da B2W quanto das lojas físicas.


E nós ainda não vimos nada…

Impulsionado pelo varejo e pelo setor de saúde (que também vive um intenso processo de transformação digital), o volume de fusões e aquisições no Brasil deve bater recordes neste ano. Em julho, já haviam sido transacionados US$ 52,1 bilhões em M&As, ultrapassando os US$ 45,9 bilhões de todo o ano passado. A grande liquidez dos mercados e o desequilíbrio criado pela pandemia abriu uma janela de oportunidades para quem estava preparado. E com o aumento da presença de varejistas na Bolsa, também aumenta a possibilidade de usar as ações como moeda nas aquisições, evitando o desembolso de recursos.

Com os recursos que captou no mercado, o varejo vem conseguindo executar uma estratégia de transformação digital bem definida. Investimentos na construção de plataformas de serviços e no aproveitamento de oportunidades digitais dão nova vida para o setor, que por décadas teve uma presença discreta na Bolsa.

Agora, porém, o momento é bem diferente. Estamos vivendo o início de uma nova fase de amadurecimento do varejo brasileiro, capitalizado, digitalizado e agressivo para crescer. A expansão para outros segmentos, como financeiro, TI e logística, vem transformando as principais empresas em plataformas de serviços altamente digitalizadas. Com isso, elas se tornam capazes de utilizar intensamente os dados dos clientes para entendê-los melhor e oferecer propostas de valor cada vez mais relevantes.

Competir com empresas digitalizadas e focadas nos consumidores será cada vez mais difícil. E isso é muito bom, pois estimula a evolução de todo o varejo brasileiro. Assim, a partir do mercado de capitais, utilizando recursos para acelerar a execução de estratégias de digitalização bem planejadas e recorrendo a fusões e aquisições para ocupar espaços mais rapidamente, o varejo brasileiro vem dando saltos.

O resultado é um novo varejo para o Brasil pós-pandemia.

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