Ninguém começa uma empresa querendo que ela termine. Aliás, difícil são os projetos de vida que despendem a maior parte do nosso tempo, dinheiro ou outro recurso de valor, sem esperarmos que retornem bons e longevos frutos, seja no âmbito pessoal ou profissional.
Segundo um estudo da SCORE, empresa americana de mentoria para empreendedores, nos Estados Unidos, apenas 30% das empresas familiares sobrevivem à transição da primeira para a segunda geração, 12% sobrevivem à transição da segunda para a terceira e, apenas 13% delas, permanecem na família por mais de 60 anos. Além disso, 47% dos fundadores, com aposentadoria prevista para os próximos 5 anos, dizem ainda não ter sucessor. E, trazendo para o cenário brasileiro, um dos fatores mais importantes para a descontinuidade de uma startup é o “não alinhamento dos interesses pessoais e/ou profissionais dos fundadores”, de acordo com o relatório “Causas da mortalidade das startups brasileiras” realizado pela Fundação Dom Cabral.
Então, falando sobre perpetuidade, nas últimas semanas tive a oportunidade de conversar com dois líderes que admiro muito e que empreendem em família. Histórias completamente diferentes, mas com problemas integralmente comuns. E, uma palavra ressoou em sincronismo em ambos os papos, quando o assunto é sustentabilidade nos negócios, tomada de decisão colegiada e sucessão. A famosa: “governança”.
Com o advento do ESG (environmental, social and governance), o tema começa a ter mais protagonismo, sendo entendido como uma prática cujo impacto acontece, inclusive, no lucro de uma corporação. Mas, ainda que o maior objetivo de uma empresa seja gerar receita, há uma longa jornada para que isso aconteça de maneira sustentável e a longo prazo, para não dizer até, perpetuamente.
“Comunicação gera transparência, que gera confiança, que gera decisão colegiada”. Essa foi uma das frases que ouvi do Ricardo Roldão, fundador do Roldão Atacadista, no episódio que gravamos juntos para o Come Together, podcast da HiPartners, e que, ainda depois da gravação, fiquei pensando em como adotar no meu dia a dia, em todas as interações, seja no trabalho ou em casa. Posso dizer que, a partir de então, ter aplicado essa teoria na prática em algumas situações, já facilitou muito a resolução de certos problemas. E nas corporações, não deve ser diferente.
Como Venture Capital, todas as semanas recebemos pitchs de startups – empresas que têm se tornado uma força motriz no cenário empresarial, impulsionando a inovação, a disrupção e o crescimento econômico. No entanto, muitas delas enfrentam desafios únicos relacionados à estrutura e à gestão dos negócios. Um “keypoint” com bastante relevância no momento em que nós entramos para avaliar o ativo como investimento.
E se você acha que governança é algo para os grandes, segundo a Gabriela Baumgart, Presidente do IBGC, o estágio para se começar é “ontem” e não existe tamanho nem tempo, mas sim disciplina e engajamento. Ela também fala muito sobre isso no episódio que fizemos juntas, e da missão pessoal em orientar outros líderes, seja para proporcionar mais longevidade às suas empresas, ou no aconselhamento para que, independente dos negócios, principalmente aqueles feitos entre parentela, o laço familiar continue sempre de pé.
Mas, em termos práticos, o que é Governança Corporativa?
A governança corporativa refere-se ao conjunto de processos, políticas, regulamentações e práticas pelos quais as empresas são dirigidas, administradas e controladas. Ela estabelece uma estrutura de tomada de decisões que equilibra os interesses dos acionistas, dos gestores, dos funcionários e de outras partes interessadas, visando a maximização do valor e o cumprimento dos objetivos organizacionais.
Para uma startup, quais os benefícios?
- Acesso a capital: A governança sólida aumenta a confiança dos investidores e facilita a captação de recursos. Como citei acima, entender a sustentabilidade do negócio mitiga riscos e atrai investidores mais estratégicos.
Para nós, como Venture Capital, uma condição sine qua non para investirmos é diligenciarmos os documentos societários, os papéis, responsabilidade e alçadas de governança entre sócios, assim como entendermos os ritos que as companhias possuem internamente, avaliando sua estrutura para crescimento e precisão da comunicação interna. É fato que muitas startups não possuem um conselho de administração, e somente algumas possuem conselho consultivo, mas independente do nível de maturidade, sem dúvida, boas práticas de governança com reuniões e documentos mitiga o risco para o potencial investidor, destravando seu capital.
- Transparência e prestação de contas: A implementação de boas práticas de governança torna a startup mais transparente em suas operações. Fornecer informações claras sobre desempenho financeiro, estratégia e riscos gera confiança entre os stakeholders e aumenta a prestação de contas dos gestores.
- Tomada de decisões eficiente: A governança corporativa estabelece processos claros de tomada de decisões, definindo responsabilidades e delegações adequadas. Isso agiliza as operações internas e reduz a burocracia, permitindo que as startups se adaptem rapidamente às mudanças do mercado, comportamento que deve ser inerente a esse tipo de empresa.
- Gestão de riscos: A governança ajuda as startups a identificar, monitorar e mitigar os riscos, protegendo a empresa de ameaças potenciais. Isso é particularmente importante para startups que operam em ambientes de alta incerteza e volatilidade.
- Atratividade para talentos: Uma empresa que demonstra compromisso com a gestão profissional e ética dos negócios, se torna mais atraente para talentos qualificados e ainda ajuda a reter no time funcionários talentosos e engajados.
Como começar?
- Estrutura de governança: Estabeleça uma estrutura de governança clara, com papéis e responsabilidades bem definidos para os acionistas, conselho de administração, diretores executivos e comitês especializados, se necessário.
- Transparência e divulgação de informações: Comunique-se de maneira transparente com os stakeholders, fornecendo informações claras e precisas sobre a estratégia, o desempenho e os riscos da startup.
Possivelmente, se você é empreendedor, provavelmente se viu já adepto de algumas ações que descrevi no decorrer do texto. Mas, se ainda não tornou isso algo institucionalizado, compartilhado e assimilado por toda a empresa, esse artigo é uma forma de te incentivar a dar vida longa aos seus negócios – seja daqui até o exit, ou então, à eternidade. O importante é não morrer no meio caminho.
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